USOS EDUCATIVOS DE INTERNET
Dr. Jaime Sánchez LLabaca
O presente trabalho trata de um resumo do artigo “Usos Educativos de Internet” do Dr. Jaime Sánchez LLabaca. O mesmo faz uma breve resumos dos capítulos destacando o assunto principal de cada tópico acrescido de comentários fundamentados na LDB e impressões do sobre a temática abordada.
A Internet é um dos componentes das chamadas “Novas Tecnologias da Informação e Comunicação”. Ela iniciou e vem em crescente ascensão desde quando surgiu a imprensa em nossa sociedade. Ela vem crescente atrelada as novas mudanças sociais. A escola e a academia se encontram nesse processo.
As tecnologias se incorporam em nossas vidas determinadas por diferentes fatores: desde as políticas educativas em geral até ações curriculares concretas dentro de cada instituição.
Um dos princípios básicos para se usar os recursos da Internet é o usuário ter uma atitude crítica da informação circulante, pois esta ferramenta faz circular um volume de informações que precisamos filtrar entre os que são confiáveis e as que não são.
A LBD (2001) art. 80 preconiza em tratamento diferenciado de acesso na educação à distância. O parâmetro da acessibilidade permite que muitas pessoas se utilizem das mídias, mas o controle sobre a qualidade fica a cargo dos usuários.
Uma da formas de dar conta desta questão é criar critérios de seleção da informação. Mas o que se tem, ainda muito, é a falta de conhecimento sobre as diversas temáticas, o que complica a busca por novas informações formando uma espécie de labirinto de difícil saída. Quanto a esse aspecto, é possível perceber o que acontece com certos usuários na busca por informações na web – rede de computadores, a possibilidade de se aprofundar em certos assuntos pode levar o pesquisador a outros assuntos que não seja o de interesse para o mesmo. Quando usada para fins de didáticos de aprendizagem, uma atitude como esta pode desviar o foco de estudo, aspectos que fogem momentaneamente ao controle técnico da rede, mas as estratégias cada vez mais se qualificar.
Que papel pode assumir o professor e o aluno ao trabalhar com internet?
O professor pode assumir o papel de aprendiz e trabalhar com a Internet com foco em dois aspectos principais:
I – participando como consumidor de informação produzida por outros, não apenas sendo consumidor;
II – Assumindo um papel de participante da rede em WWW (World Wide Web) e construtor de informação organizada de forma sistematizada em conhecimento. O professor dar a sua contribuição interagindo as informações com seus grupos de interesse ou de forma individual.
Pode-se destacar aqui a importância do professor em mediar as informações com os participantes quando se trata de construir conhecimento.
A que responde o uso da Internet na aula?
A internet para fins educativos atende a uma diversidade de ações. As mais importantes são:
Experimentar a globalização – coloca a disposição de qualquer pessoa informações de qualquer lugar do mundo dentro da sala de aula.
Favorecer experiências de novas formas de comunicação virtual – professor e aluno pode se comunicar com outrem virtualmente, estando presente ou não. Permite que pessoas de deferentes lugares e países se comuniquem instantaneamente de forma sincrônica e asincrônica.
Trabalhar com um novo meio de construção – os usos que se pode fazer com a Internet são mais construtivos. São ferramentas que usamos para fazer coisas. A Internet permite que o usuário crie, busque, faça algo e não espere que ela faça algo para ele.
Colaborar e cooperar – a Internet provê serviços que facilitam a “cooperação local e distribuída”. É possível desenvolver projetos que utilizem a ferramenta para colaboração com outros grupos que atendam o mesmo interesse.
Experimentar atividades interativas – professor e aluno têm a oportunidade de ter controle sobre a ação-reação nos diálogos interativos com Internet nas diversas formas de experiências virtuais interativas.
A comunicação global entre alunos, professores e especialistas em determinados temas com apoio da Internet cria o clima de trabalho colaborativo, onde todos podem colaborar entre si, dialogicamente.
O que pode ser uma atividade simples para qualquer pessoa que use a Internet como pesquisar um assunto ou tema não tem a mesma conotação quando se trata de uso para fins educativos. As comunicações atendem a padrões de comportamento exigidos para tal interação. Mesmo estando longe uma das outras fisicamente, as pessoas mantém um grau de formalidade ou não quando estão em interação com grupos seletos de pessoas ou individualmente.
Quais são os usos pedagógicos da Internet?
De forma resumida podemos listar alguns dos principais usos pedagógicos da Internet: serviço e recurso de informação; meio de difusão; ferramenta pedagógica; meio de construção; recurso metodológico; ferramenta de administração curricular.
Outras classificações com usos curriculares da Internet ela é usada como: ferramenta de comunicação, tutor, recurso, colaboração, investigação, ação social, conexão comunitária, simulação, publicação, multimídia e projetos.
Destaca-se a importância de melhor qualificar as atividades com uso dessa ferramenta no desenvolvimento de projetos a especificação de quais usos e recursos melhor se adequam. Pode-se afirmar que não há um padrão de qualidade, mas há diretrizes, normas pré-estabelecidas em acordo com o grupo.
Que tipos de projetos e recursos são criados por professores e aprendizes com Internet?
Alguns projetos e recursos criados por professores são: recursos de aprendizagem criados por alunos e professores, recursos educativos criados por alunos, acesso a recursos de Internet, materiais de cursos em linha, documentos administrativos em linha, recursos criados para apoiar o trabalho de professores, material de referência em linha, construção de cursos que usam a rede, criação de projetos com recursos e direção centralizada, em torno a um conceito ou método, ambientes de trabalho distribuído, foros de discussão sobre currículos, aprendizagem, metodologia, tele-educação, colaborações complementares distribuídas, recursos compartilhados, grupos locais dirigindo suas próprias atividades, marco de organização compartilhada, acesso a redes educativas nacionais e internacionais, construção de recursos educacionais em rede.
Há ainda projetos laboratoriais mais avançados que se baseiam em projetos do mundo real.
Que etapas seguem alunos e facilitadores no trabalho com Internet?
Levando em consideração o tempo para se atingir a qualidade/complexidade, alunos e facilitadores passam pelas etapas: início, adoção, adaptação, apropriação e criação. As etapas aqui destacadas seguem uma ordem previsível de organização, visto que as etapas atendem mais a aspectos técnicos metodológicos que pedagógicos.
Quais são os usos educativos das páginas Web?
A Internet se assemelha metaforicamente à biblioteca, pois em lugar de informação está nas estantes, na Web elas estão nos computadores em diversos lugares do planeta.
Com uma interface fácil de usar, a Web permite aos professores e alunos encontrar uma grande quantidade de informação, permitindo navegar através do conhecimento.
Professores e aprendizes podem navegar, buscar informações entre outras ações que lhes possibilitem adquirir valores e destrezas que lhes permitam discriminar a qualidade, utilidade e veracidade delas. É papel do facilitador orientar os alunos em sua relação com a informação e mediar o uso, construção, síntese, análise, evolução e construção.
Quais são as vantagens e desvantagens de trabalhar com Internet?
Muitas são as vantagens de trabalho com a Internet. Dela cabe o trabalho pedagógico que o facilitador realize com ela com seus aprendizes.
Entre as vantagens mais importantes encontramos que Internet:
- Estimula o uso de formas novas e distintas de aprender/construir
- Conta com boas ferramentas de apoio ao trabalho colaborativo, desenho, desenvolvimento e avaliação de projetos, investigação, experimentação e trabalho interdisciplinar
- Ajuda a aprender de outros com outros
- Facilita a aprender fazendo, construindo coisas e resolvendo problemas
- Estimula o desenvolvimento e uso de destrezas de colaboração, comunicação e interação
- Estimula o desenvolvimento e uso de destrezas sociais e cognitivas
- Estimula o trabalho global e a interdisciplinaridade
As desvantagens ao usar Internet em educação nascem essencialmente em:
- A quantidade e qualidade da informação circulante
- O tempo que professor e aluno requer para navegar
- A estabilidade das conexões
- As metodologias de trabalho são ainda imaturas
- A carência de evolução de experiências educativas com o uso da internet como meio
- A carência de mapas visíveis que permitam usuário orientar-se dentro da informação e evitar a saturação por informação diversamente representada, chamada fatiga cognitiva.
Também se apresenta problemas estruturais que dificultam o uso da Internet na educação como falta de conexão, uso em laboratórios e não em salas, menor uso em Educação Básica que a Média.
Grande parte das desvantagens citadas acima podem ser resolvidas quando os aprendizes adquirem destreza e conseguem reconhecer, selecionar e classificar a informação relevante.
A internet pode ser uma ferramenta pedagógica poderosa se podermos usar com uma metodologia adequada, com objetivos e metas claras e realistas pode ajudar e que a qualidade e diversidade de experiências de aprendizagem em aula sejam mais pertinentes, significativas, interessantes, ativas, construtivas e contextualizadas.
Fonte consultada:
LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9. 394/96, de 20 de dezembro de 1996.
Jaime Sánchez LLabaca. Usos Educativos de Internet. DCC – Universidade de Chile. Blanco Encalada 2120. Casilla 2777, Santiago – Chile. E-mail: jsanchez@dcc.uchile.cl
Educação Forquilha 2010
Secretaria Municipal de Educação de Forquilha Superitendência Municipal Coordenação de Ensino Fundamental
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
AS BOAS EXPERIÊNCIAS DO USO DA INTERNET PARA FINS EDUCATIVOS
O desenvolvimento das novas tecnologias permite que nos comuniquemos com outras pessoas mesmo que isso não importe estar presente à mesma. A Internet tem surgido como uma das principais ferramentas na atualidade que proporcionam melhor interação e comunicabilidade entre pessoas, seja virtual ou não.
O que antes era impossível imaginar, falar com uma pessoa de outro país, ver imagens postadas instantaneamente por usuários da web, hoje é possível graças a essa ferramenta de comunicação muito inteligente: a internet.
A Internet vai além. A prova de que é uma ferramenta inteligente é que ela pode ser usada para diversos fins: seja pedagógico, desenvolvimento de projetos, interação etc. O maior desafio que se apresenta no desenvolvimento e aproveitamento dessa ferramenta pedagógica é a qualificação do trabalho. Com a Internet é possível que se publique milhões de informações na rede de computadores, web, dificultando a filtragem das publicações. Isto requer leituras críticas sobre os diversos assuntos e temas que circulam para a grande maioria dos usuários.
Apesar destes e de muitos outros aspectos que desafiam a efetiva credibilidade desse recurso tecnológico, há muitas experiências que comprovam o bom uso das mídias. O desenvolvimento do EAD – Educação à Distância, é prova de que as novas tecnologias rompem fronteiras, encurtando distâncias entre as pessoas, divulgando saberes, construindo conhecimento entre grupos de interesse. A interação entre professor-aluno está cada vez mais alimentada graças o uso das internet.
Para melhor exemplificar é possível consultar uma dessas experiências em excelência de ensino com uso da Internet desenvolvido pelo MEC consulte o link abaixo:
http://www.virtual.ufc.br/gpege
O que antes era impossível imaginar, falar com uma pessoa de outro país, ver imagens postadas instantaneamente por usuários da web, hoje é possível graças a essa ferramenta de comunicação muito inteligente: a internet.
A Internet vai além. A prova de que é uma ferramenta inteligente é que ela pode ser usada para diversos fins: seja pedagógico, desenvolvimento de projetos, interação etc. O maior desafio que se apresenta no desenvolvimento e aproveitamento dessa ferramenta pedagógica é a qualificação do trabalho. Com a Internet é possível que se publique milhões de informações na rede de computadores, web, dificultando a filtragem das publicações. Isto requer leituras críticas sobre os diversos assuntos e temas que circulam para a grande maioria dos usuários.
Apesar destes e de muitos outros aspectos que desafiam a efetiva credibilidade desse recurso tecnológico, há muitas experiências que comprovam o bom uso das mídias. O desenvolvimento do EAD – Educação à Distância, é prova de que as novas tecnologias rompem fronteiras, encurtando distâncias entre as pessoas, divulgando saberes, construindo conhecimento entre grupos de interesse. A interação entre professor-aluno está cada vez mais alimentada graças o uso das internet.
Para melhor exemplificar é possível consultar uma dessas experiências em excelência de ensino com uso da Internet desenvolvido pelo MEC consulte o link abaixo:
http://www.virtual.ufc.br/gpege
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
AULA INAUGURAL - ENCONTRO DE SECRETÁRIOS, SUPERITENDENTES E GERENTES DO PAIC - 6ª CREDE - SOBRAL
Educação e desigualdades: O Ideb e o caso do Ceará
O principal indicador de qualidade da educação básica no Brasil na atualidade é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), aferido e divulgado pelo Ministério da Educação a cada dois anos. Os números divulgados no início de julho, relativos ao ano de 2009, mostram que o Brasil está longe de alcançar indicadores satisfatórios no que diz respeito à aprendizagem dos alunos.
Por Joan Edesson*
Mas mostra também que o país inteiro avançou nos últimos anos, embora num ritmo lento e que não corresponde às nossas necessidades de desenvolvimento. Para se ter uma ideia do quão distante estamos de uma situação satisfatória, basta ver que temos, nas séries iniciais do ensino fundamental das redes municipais, apenas 325 municípios com Ideb igual ou superior a seis, que é o mínimo esperado. Ou seja, é o equivalente a apenas 5,8% dos municípios brasileiros. E estamos falando das séries iniciais do ensino fundamental, onde temos indicadores melhores.
Um dado que chama a atenção é a confirmação das extremas desigualdades regionais existentes em nosso país. Dos 325 municípios com nota igual ou superior a seis, 317 (o equivalente a 97,5%) estão nas regiões sul e sudeste, mais precisamente concentrados nos estados de Minas Gerais (121 municípios) e São Paulo (123 municípios). Seguem-se 35 municípios do Paraná, 19 de Santa Catarina, 14 do Rio Grande do Sul, quatro do Espírito Santo e um do Rio de Janeiro. A região Centro-Oeste tem seis municípios entre os melhores, três de Goiás e três do Mato Grosso. Há apenas dois municípios no Nordeste, os dois no Ceará, Sobral e Abaiara. A região Norte não tem nenhum município nesta faixa de nota igual ou superior a seis.
Na outra ponta, nos municípios com nota no IDEB inferior a três, o que significa que a maioria dos alunos não está sequer alfabetizada ao final das séries iniciais, há 276 municípios. E a situação aí, quando consideramos os dados por região, se inverte completamente. Há 01 município no Acre, 01 em Roraima, 9 no Amazonas, 3 no Amapá, 24 no Pará, 01 no Mato Grosso, 02 em Minas Gerais e 01 no Rio Grande do Sul. Todos os demais estão no Nordeste. 55 na Bahia, 47 no Piauí, 40 no Rio Grande do Norte, 23 no Maranhão, 22 na Paraíba, 20 em Sergipe, 14 em Alagoas e 12 em Pernambuco. O Ceará tem apenas um nessa situação. Vimos então que a região Nordeste concentra 84.8% das piores redes municipais (234 municípios). 13.8% dos piores estão na região Norte (38 municípios). Os demais estão nas regiões Sudeste (dois municípios), Centro-Oeste (um município) e Sul (um município).
A distribuição confirma as desigualdades regionais. Há melhores escolas e melhores redes municipais de ensino nas regiões mais ricas e mais desenvolvidas do país, enquanto as regiões mais pobres e menos desenvolvidas concentram as piores redes municipais de ensino.
Isto reforça a ideia de que um projeto nacional de desenvolvimento precisa levar em conta estas desigualdades regionais e pensar o país na sua totalidade. A concentração do desenvolvimento por regiões é outra face da concentração de riquezas em nosso país, é outra faceta das desigualdades econômicas e sociais que assolam o Brasil. Um novo projeto nacional de desenvolvimento deve pensar o desenvolvimento de todas as regiões do país. É necessário desconcentrar as riquezas, e isto implica necessariamente em desconcentrar o desenvolvimento, em desconcentrar os investimentos feitos pelo Estado e em induzir também a desconcentração de investimentos privados.
Se é verdade que há relação direta entre a realidade econômico-social e a má qualidade da educação, quando pomos as coisas desta forma, os dados podem nos levar ao fatalismo, à paralisia. A constatação pode ser: enquanto não resolvermos a questão da miséria, da má distribuição de renda, do crescimento econômico do país, não há saídas para a educação. Assim, o Nordeste deveria se conformar com os péssimos indicadores de aprendizagem das suas crianças e esperar, quem sabe eternamente, pela sua redenção econômica para que essa signifique também a sua redenção educacional. As coisas não são assim. O estado do Rio de Janeiro possui apenas um município que tem nota igual ou superior a seis, o município de Aperibe. O Ceará, muitíssimo mais pobre e menos desenvolvido que o Rio, tem dois municípios (Sobral e Abaiara) e os dois têm indicadores melhores do que Aperibe. Seriam esses casos (Rio de Janeiro e Ceará) apenas as exceções a confirmar a regra geral? Penso que não.
O que o Ceará fez de diferente?
A matrícula das séries iniciais do ensino fundamental no Ceará é municipalizada na sua quase totalidade. Isso poderia levar a Secretaria Estadual de Educação a não se responsabilizar em absoluto por esses alunos e a se dedicar exclusivamente às séries terminais e ao ensino médio. Mas não foi isso que o Ceará fez. Pelo contrário, a Secretaria entendeu o seu papel de Secretaria de Educação do Ceará e não apenas de Secretaria de Educação para as escolas das redes estaduais, como ocorre em muitos outros estados.
Em 2007 a Seduc criou o Programa Alfabetização na Idade Certa (Paic), um amplo programa de gestão municipal e escolar destinado a apoiar os municípios do estado, contando com a adesão da totalidade dos municípios. Com apoio financeiro do Ministério da Educação, e com um considerável aporte de recursos próprios do estado, o Ceará deu um salto na alfabetização das crianças, verdadeiro gargalo no processo de aprendizagem nas séries iniciais.
Este trabalho de apoio às gestões municipais, com cooperação técnico-científica, apoio financeiro e um trabalho sistemático de acompanhamento e avaliação da aprendizagem de todas as crianças, é o grande responsável pelo salto que o Ceará deu, colocando-se no Ideb como o melhor desempenho entre os estados nordestinos e como aquele que mais cresceu desde 2005, ano em que começou a divulgação do Ideb. Das trezentas melhores escolas municipais apenas 28 estão no Nordeste, e destas 21 estão no Ceará. Mais uma vez as regiões Sul e Sudeste concentram a maioria (265 escolas). Um fato relevante é que entre as cem escolas com indicadores mais baixos não há nenhuma do Ceará e a escola com o mais baixo indicador é uma escola da rede estadual de Minas Gerais localizada em Belo Horizonte.
A mudança qualitativa nas escolas das redes públicas municipais do Ceará é fortemente influenciada por uma sólida política educacional coordenada pela Secretaria Estadual de Educação. Sem isso, provavelmente o Ceará não teria se destacado como o fez.
O exemplo de Sobral
A política educacional levada a cabo pela Seduc para os municípios do Ceará foi formulada a partir da experiência de Sobral. O governador Cid Gomes foi prefeito de Sobral por duas gestões. A secretária de Educação do Ceará, Izolda Cela, e o secretário-Adjunto, Maurício Holanda, foram secretários de Educação em Sobral.
A partir de 2001 Sobral desenvolveu uma nova política educacional, tendo como foco a aprendizagem das crianças. Os resultados podem ser vistos no Ideb deste ano. Sobral foi um dos dois únicos municípios do Nordeste com nota igual ou superior a seis no IDEB (o outro foi Abaiara, também no Ceará). Se considerarmos apenas as redes municipais nas séries iniciais Sobral ocupa a 55ª posição no ranking dos melhores municípios. E fez isso em todas as suas escolas. Das 39 escolas municipais 38 tiveram nota igual ou superior a seis no Ideb. Apenas uma escola ficou abaixo disso, mas perto (nota 5.3).
Das trezentas melhores escolas municipais do país nas séries iniciais, o município de Sobral tem dezoito, o que corresponde a quase metade das suas escolas. Para saber o que isto significa basta dizer que redes municipais como Porto Alegre, Fortaleza, São Paulo, Recife e Salvador não tem nenhuma escola entre estas. O município de Belo Horizonte tem apenas uma e o município do Rio de Janeiro tem apenas dez.
Não houve nenhum milagre no município de Sobral, mas uma política educacional voltada para garantir a aprendizagem dos alunos, que é o foco da rede municipal de ensino e de todas as suas escolas. Para isso foi fundamental a adoção de uma série de medidas, tais como o estabelecimento de uma política de alfabetização; o fortalecimento da gestão escolar com um processo criterioso de seleção e formação de diretores e coordenadores pedagógicos; o fortalecimento das escolas com autonomia pedagógica, administrativa e financeira; um processo permanente de acompanhamento e avaliação da aprendizagem por parte da secretaria municipal de educação; a formação permanente em serviço de todos os professores da rede municipal de ensino (para isso foi criada uma Escola de Formação Permanente do Magistério); dentre outras.
O que o Ceará e Sobral têm a nos dizer é que há, sim, relação entre as questões econômico-sociais e as questões educacionais, expressas nas desigualdades reveladas pelo Ideb. Mas o que eles nos dizem também é que é possível, a partir de políticas educacionais sólidas, focadas na aprendizagem das crianças, romper com essa lógica perversa dos melhores do lado de lá e dos coitadinhos do lado de cá, em todos os aspectos. E, rompendo essa lógica, talvez também possamos inverter uma outra lógica, de que nossa educação é ruim porque somos mais pobres. Se entendermos a educação como parte fundamental e imprescindível de um novo projeto nacional de desenvolvimento, talvez Sobral e o Ceará, pobres, miseráveis, no semiárido nordestino, nos digam, num futuro não muito distante, que ficamos menos pobres e menos desenvolvidos porque passamos a ter escolas melhores e políticas educacionais mais sólidas e mais focadas na aprendizagem das crianças e dos adolescentes.
* Joan Edesson de Oliveira é educador. Foi consultor do Programa Alfabetização na Idade Certa da Secretaria de Educação do Ceará entre os anos de 2007 e 2009.
O principal indicador de qualidade da educação básica no Brasil na atualidade é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), aferido e divulgado pelo Ministério da Educação a cada dois anos. Os números divulgados no início de julho, relativos ao ano de 2009, mostram que o Brasil está longe de alcançar indicadores satisfatórios no que diz respeito à aprendizagem dos alunos.
Por Joan Edesson*
Mas mostra também que o país inteiro avançou nos últimos anos, embora num ritmo lento e que não corresponde às nossas necessidades de desenvolvimento. Para se ter uma ideia do quão distante estamos de uma situação satisfatória, basta ver que temos, nas séries iniciais do ensino fundamental das redes municipais, apenas 325 municípios com Ideb igual ou superior a seis, que é o mínimo esperado. Ou seja, é o equivalente a apenas 5,8% dos municípios brasileiros. E estamos falando das séries iniciais do ensino fundamental, onde temos indicadores melhores.
Um dado que chama a atenção é a confirmação das extremas desigualdades regionais existentes em nosso país. Dos 325 municípios com nota igual ou superior a seis, 317 (o equivalente a 97,5%) estão nas regiões sul e sudeste, mais precisamente concentrados nos estados de Minas Gerais (121 municípios) e São Paulo (123 municípios). Seguem-se 35 municípios do Paraná, 19 de Santa Catarina, 14 do Rio Grande do Sul, quatro do Espírito Santo e um do Rio de Janeiro. A região Centro-Oeste tem seis municípios entre os melhores, três de Goiás e três do Mato Grosso. Há apenas dois municípios no Nordeste, os dois no Ceará, Sobral e Abaiara. A região Norte não tem nenhum município nesta faixa de nota igual ou superior a seis.
Na outra ponta, nos municípios com nota no IDEB inferior a três, o que significa que a maioria dos alunos não está sequer alfabetizada ao final das séries iniciais, há 276 municípios. E a situação aí, quando consideramos os dados por região, se inverte completamente. Há 01 município no Acre, 01 em Roraima, 9 no Amazonas, 3 no Amapá, 24 no Pará, 01 no Mato Grosso, 02 em Minas Gerais e 01 no Rio Grande do Sul. Todos os demais estão no Nordeste. 55 na Bahia, 47 no Piauí, 40 no Rio Grande do Norte, 23 no Maranhão, 22 na Paraíba, 20 em Sergipe, 14 em Alagoas e 12 em Pernambuco. O Ceará tem apenas um nessa situação. Vimos então que a região Nordeste concentra 84.8% das piores redes municipais (234 municípios). 13.8% dos piores estão na região Norte (38 municípios). Os demais estão nas regiões Sudeste (dois municípios), Centro-Oeste (um município) e Sul (um município).
A distribuição confirma as desigualdades regionais. Há melhores escolas e melhores redes municipais de ensino nas regiões mais ricas e mais desenvolvidas do país, enquanto as regiões mais pobres e menos desenvolvidas concentram as piores redes municipais de ensino.
Isto reforça a ideia de que um projeto nacional de desenvolvimento precisa levar em conta estas desigualdades regionais e pensar o país na sua totalidade. A concentração do desenvolvimento por regiões é outra face da concentração de riquezas em nosso país, é outra faceta das desigualdades econômicas e sociais que assolam o Brasil. Um novo projeto nacional de desenvolvimento deve pensar o desenvolvimento de todas as regiões do país. É necessário desconcentrar as riquezas, e isto implica necessariamente em desconcentrar o desenvolvimento, em desconcentrar os investimentos feitos pelo Estado e em induzir também a desconcentração de investimentos privados.
Se é verdade que há relação direta entre a realidade econômico-social e a má qualidade da educação, quando pomos as coisas desta forma, os dados podem nos levar ao fatalismo, à paralisia. A constatação pode ser: enquanto não resolvermos a questão da miséria, da má distribuição de renda, do crescimento econômico do país, não há saídas para a educação. Assim, o Nordeste deveria se conformar com os péssimos indicadores de aprendizagem das suas crianças e esperar, quem sabe eternamente, pela sua redenção econômica para que essa signifique também a sua redenção educacional. As coisas não são assim. O estado do Rio de Janeiro possui apenas um município que tem nota igual ou superior a seis, o município de Aperibe. O Ceará, muitíssimo mais pobre e menos desenvolvido que o Rio, tem dois municípios (Sobral e Abaiara) e os dois têm indicadores melhores do que Aperibe. Seriam esses casos (Rio de Janeiro e Ceará) apenas as exceções a confirmar a regra geral? Penso que não.
O que o Ceará fez de diferente?
A matrícula das séries iniciais do ensino fundamental no Ceará é municipalizada na sua quase totalidade. Isso poderia levar a Secretaria Estadual de Educação a não se responsabilizar em absoluto por esses alunos e a se dedicar exclusivamente às séries terminais e ao ensino médio. Mas não foi isso que o Ceará fez. Pelo contrário, a Secretaria entendeu o seu papel de Secretaria de Educação do Ceará e não apenas de Secretaria de Educação para as escolas das redes estaduais, como ocorre em muitos outros estados.
Em 2007 a Seduc criou o Programa Alfabetização na Idade Certa (Paic), um amplo programa de gestão municipal e escolar destinado a apoiar os municípios do estado, contando com a adesão da totalidade dos municípios. Com apoio financeiro do Ministério da Educação, e com um considerável aporte de recursos próprios do estado, o Ceará deu um salto na alfabetização das crianças, verdadeiro gargalo no processo de aprendizagem nas séries iniciais.
Este trabalho de apoio às gestões municipais, com cooperação técnico-científica, apoio financeiro e um trabalho sistemático de acompanhamento e avaliação da aprendizagem de todas as crianças, é o grande responsável pelo salto que o Ceará deu, colocando-se no Ideb como o melhor desempenho entre os estados nordestinos e como aquele que mais cresceu desde 2005, ano em que começou a divulgação do Ideb. Das trezentas melhores escolas municipais apenas 28 estão no Nordeste, e destas 21 estão no Ceará. Mais uma vez as regiões Sul e Sudeste concentram a maioria (265 escolas). Um fato relevante é que entre as cem escolas com indicadores mais baixos não há nenhuma do Ceará e a escola com o mais baixo indicador é uma escola da rede estadual de Minas Gerais localizada em Belo Horizonte.
A mudança qualitativa nas escolas das redes públicas municipais do Ceará é fortemente influenciada por uma sólida política educacional coordenada pela Secretaria Estadual de Educação. Sem isso, provavelmente o Ceará não teria se destacado como o fez.
O exemplo de Sobral
A política educacional levada a cabo pela Seduc para os municípios do Ceará foi formulada a partir da experiência de Sobral. O governador Cid Gomes foi prefeito de Sobral por duas gestões. A secretária de Educação do Ceará, Izolda Cela, e o secretário-Adjunto, Maurício Holanda, foram secretários de Educação em Sobral.
A partir de 2001 Sobral desenvolveu uma nova política educacional, tendo como foco a aprendizagem das crianças. Os resultados podem ser vistos no Ideb deste ano. Sobral foi um dos dois únicos municípios do Nordeste com nota igual ou superior a seis no IDEB (o outro foi Abaiara, também no Ceará). Se considerarmos apenas as redes municipais nas séries iniciais Sobral ocupa a 55ª posição no ranking dos melhores municípios. E fez isso em todas as suas escolas. Das 39 escolas municipais 38 tiveram nota igual ou superior a seis no Ideb. Apenas uma escola ficou abaixo disso, mas perto (nota 5.3).
Das trezentas melhores escolas municipais do país nas séries iniciais, o município de Sobral tem dezoito, o que corresponde a quase metade das suas escolas. Para saber o que isto significa basta dizer que redes municipais como Porto Alegre, Fortaleza, São Paulo, Recife e Salvador não tem nenhuma escola entre estas. O município de Belo Horizonte tem apenas uma e o município do Rio de Janeiro tem apenas dez.
Não houve nenhum milagre no município de Sobral, mas uma política educacional voltada para garantir a aprendizagem dos alunos, que é o foco da rede municipal de ensino e de todas as suas escolas. Para isso foi fundamental a adoção de uma série de medidas, tais como o estabelecimento de uma política de alfabetização; o fortalecimento da gestão escolar com um processo criterioso de seleção e formação de diretores e coordenadores pedagógicos; o fortalecimento das escolas com autonomia pedagógica, administrativa e financeira; um processo permanente de acompanhamento e avaliação da aprendizagem por parte da secretaria municipal de educação; a formação permanente em serviço de todos os professores da rede municipal de ensino (para isso foi criada uma Escola de Formação Permanente do Magistério); dentre outras.
O que o Ceará e Sobral têm a nos dizer é que há, sim, relação entre as questões econômico-sociais e as questões educacionais, expressas nas desigualdades reveladas pelo Ideb. Mas o que eles nos dizem também é que é possível, a partir de políticas educacionais sólidas, focadas na aprendizagem das crianças, romper com essa lógica perversa dos melhores do lado de lá e dos coitadinhos do lado de cá, em todos os aspectos. E, rompendo essa lógica, talvez também possamos inverter uma outra lógica, de que nossa educação é ruim porque somos mais pobres. Se entendermos a educação como parte fundamental e imprescindível de um novo projeto nacional de desenvolvimento, talvez Sobral e o Ceará, pobres, miseráveis, no semiárido nordestino, nos digam, num futuro não muito distante, que ficamos menos pobres e menos desenvolvidos porque passamos a ter escolas melhores e políticas educacionais mais sólidas e mais focadas na aprendizagem das crianças e dos adolescentes.
* Joan Edesson de Oliveira é educador. Foi consultor do Programa Alfabetização na Idade Certa da Secretaria de Educação do Ceará entre os anos de 2007 e 2009.
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